Tecnologia

‘BlackBerry’ subverte clichês dos filmes sobre marcas e tecnologia com deboche sincero; g1 já viu

“BlackBerry” poderia ser só mais um filme de 2023 sobre um produto icônico (“Tetris”, “Air: A história por trás do logo”, “Barbie”) ou então outra obra com os bastidores da indústria da tecnologia (“A rede social”, “Steve Jobs”).

Por sorte, a produção que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12) se destaca – ou pelo menos se diferencia – das demais graças ao constante ar de deboche de quem nunca se leva a sério demais.

Sim, a história da ascensão e da queda dos aparelhos precursores do smartphone, cuja fabricante chegou a ser responsável por 45% do mercado nos Estados Unidos, em si é incrível, mas poderia cair facilmente nas armadilhas e nos clichês desses subgêneros.

Há momentos em que flerta até demais com a fanfarronice, como com as escolhas bizarras das perucas da calvície nada convincente dos protagonistas. No entanto, logo deixa claro que nada é tão ridículo quanto – o capitalismo? – a realidade.

O gênio e o tubarão
Para contar a glória e a ruína dos aparelhinhos com teclados que infernizaram as vidas de muita gente no começo dos anos 2000, o filme contrapõe os dois presidentes-executivos da fabricante, a canadense Research in Motion (RIM).

De um lado, o inventor gênio e desajustado Mike Lazaridis (Jay Baruchel). Do outro, o executivo inescrupuloso tubarão de Wall Street Jim Balsillie (Glenn Howerton).

Ambas as figuras exploradas à exaustão por Hollywood, mas apresentados em uma simbiose meio sinistra meio absurda que em pouco tempo se torna algo quase inteiramente novo – um não pode existir sem o outro, e o sucesso jamais seria possível sem a parceria.

É melhor ser ridículo de propósito
Baruchel (ator mais conhecido como a voz do protagonista de “Como treinar seu dragão”) consegue desaparecer no papel e Howerton de certa forma repete a psicopatia com um perigo constante logo abaixo da superfície que há anos pratica em “It’s sunny in Philadelphia”.

O coração da história fica mesmo com o cofundador da RIM, Doug Fregin, interpretado pelo diretor/roteirista do filme, Matt Johnson (comediante talvez mais conhecido, mas não muito, pela série de humor “Nirvanna the band the show”).

Nenhum dos três brilha, mas a ideia não é essa. O grande mérito do roteiro, assinado com Matthew Miller (parceiro criativo de longa data de Johnson), é saber que a grande estrela é mesmo a história.

Em alguns momentos, daria até para achar que “BlackBerry” se trata de uma paródia – não fosse a trama real. Em outros, o ritmo descamba para algo parecido com as melhores obras adolescentes dos anos 1980, por mais que se passe nas décadas seguintes.

Com isso, evita algumas das armadilhas da autoexaltação exagerada de alguns de seus antecessores – que os tornam cada vez mais ridículos com o passar dos anos.

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