O cinema, ao longo da história, sempre foi uma poderosa ferramenta de reflexão social e política. A produção cinematográfica transcende a simples diversão e pode servir como um reflexo da sociedade, sendo também uma forma de engajamento político. Este aspecto é particularmente relevante quando analisamos o contexto atual do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, que se encontra entre os favoritos para o Oscar 2025, com três indicações, incluindo a cobiçada categoria de Melhor Filme. A trama aborda a luta pelos direitos humanos e a memória histórica, temas que ressoam profundamente não apenas no Brasil, mas também internacionalmente, especialmente em tempos de crescente polarização política.
O filme, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, narra a história de Eunice Paiva, uma dona de casa que se transforma em ativista após o assassinato de seu marido durante a ditadura militar no Brasil. A obra toca em questões sensíveis e urgentes, como a memória da ditadura e a importância da preservação da história política, elementos que são especialmente importantes no contexto atual, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Com um apelo político claro, Ainda Estou Aqui traz à tona discussões sobre justiça, resistência e a busca por reconhecimento das vítimas de regimes autoritários, temáticas que são extremamente relevantes no cenário político atual.
O sucesso do filme não está apenas em sua qualidade técnica e narrativa, mas também na sua capacidade de se conectar com questões universais que ultrapassam as fronteiras nacionais. A crítica de cinema Bárbara Demerov, em entrevista ao programa Terra Agora, destacou que o contexto político, especialmente nos Estados Unidos, pode ajudar a impulsionar o filme brasileiro na corrida pelo Oscar. Mesmo com a polarização exacerbada que dominou o governo Trump, a produção brasileira tem uma chance significativa de conquistar a Academia, que, composta por mais de 9 mil membros, possui uma diversidade de visões e provavelmente não se alinha com visões políticas mais extremas.
O caráter político do filme se entrelaça com a urgência de discutir temas como a memória histórica e os direitos humanos. A crítica ressalta que, em tempos de crises políticas e sociais, o cinema tem o poder de ser uma forma de “manifestação”, uma maneira de reafirmar o valor da arte como um espaço para reflexão e protesto. Ainda Estou Aqui oferece uma narrativa que não apenas revisita a ditadura brasileira, mas também coloca em questão o legado de regimes autoritários, com uma abordagem que se conecta diretamente com os desafios do presente, tornando o filme um candidato natural para ser reconhecido pela Academia.
Além disso, Ainda Estou Aqui chega à premiação com o respaldo de uma performance notável de Fernanda Torres, que foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz. O filme traz ainda uma carga simbólica, pois remete à história de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Oscar em 1999 por Central do Brasil. Esta conexão entre gerações de atrizes brasileiras pode fortalecer ainda mais o apelo do filme, mostrando a continuidade da excelência cinematográfica nacional e a crescente presença do Brasil no cenário internacional.
A obra tem se destacado por sua forma única de abordar a luta por justiça e pela preservação da memória, dois pilares fundamentais para entender a política contemporânea. Nesse sentido, Ainda Estou Aqui não é apenas um reflexo do passado, mas uma análise crítica do presente, alinhando-se com as discussões globais sobre direitos humanos, justiça social e a importância de se confrontar os erros históricos. Essa abordagem crítica pode ser um diferencial importante para o filme na corrida pelo Oscar, principalmente em um momento de crescente polarização e necessidade de reflexão sobre os rumos políticos no Brasil e no mundo.
Caso o filme consiga levar o prêmio de Melhor Filme no Oscar 2025, ele não só marcará um feito inédito para o Brasil, mas também consolidará uma nova perspectiva sobre o cinema brasileiro no panorama internacional. A premiação, para muitos, pode ser vista como uma afirmação da importância de histórias que abordam temas políticos e sociais, e Ainda Estou Aqui surge como uma excelente representante dessa nova onda de filmes que almejam mais do que o sucesso de crítica ou bilheteira: buscam provocar mudanças significativas na sociedade.
A cerimônia do Oscar 2025 promete ser um marco para o cinema nacional, e Ainda Estou Aqui tem o potencial de não apenas destacar o Brasil no cenário internacional, mas também de reforçar a ideia de que o cinema pode e deve ser político. A obra brasileira reflete a luta por justiça e memória, temas que não são apenas locais, mas globais. Portanto, o contexto atual, de tensões políticas e sociais, pode, sim, ser o combustível necessário para que Ainda Estou Aqui consiga não apenas conquistar os corações dos votantes da Academia, mas também alcançar um público maior, comprometido com as questões que o filme levanta.
Em um mundo cada vez mais polarizado, o cinema tem o poder de reunir diferentes perspectivas e gerar debates essenciais para a sociedade. Ainda Estou Aqui é um excelente exemplo disso, ao trazer à tona a importância de manter viva a memória dos que lutaram por justiça em tempos difíceis. A produção pode ser mais do que uma simples obra cinematográfica; ela é uma declaração política em si mesma, com o potencial de fazer história no Oscar 2025. Com o cenário político atual favorecendo filmes que tratam de questões sociais urgentes, Ainda Estou Aqui está posicionado como uma obra com chances reais de brilhar no maior palco do cinema mundial.