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Dia do Cinema: catálogo inédito registra mais de 100 anos de obras audiovisuais do Pará

O cinema produzido na Amazônia paraense é diverso e tem mais de um século de trajetória. Mas permanece invisível na história da filmografia nacional. No esforço de lançar luz sobre as centenas de longas, curtas-metragens e videoclipes que compõem a vasta produção criativa do audiovisual paraoara, o escritor, curador e professor Ramiro Quaresma dedicou uma década à pesquisa que culmina em um catálogo sobre o cinema do Pará, com mais de 130 obras e análises dos títulos. A pesquisa, que acaba de ser lançada, é um marco para a memória da sétima arte feita no Norte, que reivindica seu espaço neste Dia do Cinema, celebrado no domingo (5).

A pesquisa “O cinema e o audiovisual do Pará: memórias submersas de uma filmografia invisível” é resultado do estudo de obras desde 1910 até 2023, material que foi objeto da tese de doutorado de Quaresma defendida este ano na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com a proposta de preservação deste patrimônio audiovisual a partir do mapeamento, documentação, curadoria e catalogação, Ramiro traça um percurso íntimo e cartográfico que elabora um panorama histórico, social e político das produções audiovisuais em um mergulho na crítica e análise fílmica, na busca de criar uma referência para o estudo da filmografia paraense.

“Meu papel de pesquisador foi tirar essas obras do fundo do rio e trazê-las à superfície. A dispersão das obras e falta de uma catalogação geral dava essa falsa impressão que não existia um ‘cinema paraense’ e sim alguns lampejos de produção. Mas na tese pode-se observar uma intensa produção principalmente a partir dos anos 1960. Acredito que a tese contribui muito para estabelecer marcos indiciais para pesquisas futuras”, diz Ramiro, que é professor do Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Cinema de guerrilha
O catálogo deriva de um trabalho realizado de forma independente por Quaresma desde 2010, por meio do site Cinemateca Paraense, plataforma na qual o pesquisador organizou mais de 300 obras do audiovisual do estado. “Foi desafiador pela dificuldade de ter acesso às obras, que não contavam com um acervo organizado e as poucas cópias existentes ainda eram em película”, pontua.

“Essa omissão de títulos do Norte do país na filmografia brasileira continuou ao longo dos anos. Já havia abordado o tema na minha dissertação de mestrado e na tese de doutorado resolvi criar essa historiografia, numa tentativa de definir seus períodos e as obras fundamentais, fazendo a pesquisa gostaria de ter tido acesso lá no início da Cinemateca Paraense”, diz.

Deste universo, foram selecionados na pesquisa 132 títulos ilustrativos dos sete ciclos do cinema do Pará: da chegada de Ramon de Baños, no início do século XX, até o cinema de Líbero Luxardo; as experimentações entre os anos 1970 e 1990 de nomes como Chico Carneiro, Januário Guedes, Edna Castro e Moisés Magalhães; o cinema dos anos 2000 e o início dos editais de fomento, com destaque para a produção de nomes como Fernando Segtowick e Jorane Castro; os documentários, animações e videoclipes pela enorme produção a partir dos anos 2000 também ganham capítulos próprios; e o cinema contemporâneo com realizadores como Roger Elarrat, Zienhe Castro, Priscilla Brasil, Mateus Moura e Adriana Oliveira.

“Neste percurso histórico, um fenômeno que me instigou foram os ciclos interrompidos da produção audiovisual no Pará. A histórica ausência de uma política estatal para o cinema obrigou os realizadores a produzir de forma colaborativa e, posso até dizer, militante. É um processo revolucionário mesmo, de viabilizar recursos financeiros e humanos para transformar ideias em filmes. Uma jornada que muitos iniciaram, mas que o cenário desfavorável interrompeu inúmeras trajetórias. A partir dos anos 2000, com editais e uma profissionalização no setor, essa produção foi mais contínua, e hoje já está potente na capital e com iniciativas de grande repercussão até no interior do estado”, analisa.

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