Política

Cinema e política

Alguém já disse – e me perdoe o leitor por eu não lembrar quem o fez – que o cinema é uma arte eminentemente política. Há filmes que abordam diretamente o tema, mesmo que não seja a tal da política partidária, essa que nos fará ir às urnas no próximo domingo. Um exemplo que me vem à cabeça agora é o excelente Eu, Daniel Blake (2016), de Ken Loach, sobre o tal Daniel, que após sofrer um infarto, pena na burocracia para receber um auxílio que lhe é de direito (não, a história não se passa no Brasil).

Mas é claro que há os filmes que tratam especificamente da política eleitoral. Em muitas décadas, há pelo menos uma centena de grandes filmes abordando o tema, produções não só norte-americanas, ou francesas, ou brasileiras, mas de todo lugar. E isso sem contar os documentários – me refiro apenas aos longas-metragens baseados em fatos reais (vide o nacional O Homem da Capa Preta, de 1986, por exemplo), ou não.

Todos os Homens do Presidente (1976) é um ótimo espécime da natureza verídica romantizada. Embora não seja estritamente sobre o processo eleitoral, aborda uma investigação jornalística que culmina com a renúncia do então presidente dos EUA, Richard Nixon, que abriu mão do poder para não sofrer as consequências morais e políticas de um impeachment, isso tudo em meio a um escândalo de corrupção de seu governo, descoberto por dois grandes jornalistas.

Da lista das ficções pura e simples, isto é, dos filmes não inspirados em um caso real concreto (embora esse tipo de filme seja comumente inspirado na história de alguém), meu favorito é A Grande Ilusão, refilmagem, lançada em 2006, do homônimo All The Kings Man (no título original), vencedor de três prêmios Oscar em 1950, incluindo o de Melhor Filme.

Por um desses acasos do destino, nunca vi o original. A refilmagem é dirigida por Steven Zaillian, mais conhecido como roteirista do que diretor (o que lhe valeu, entre outros prêmios, o Oscar de Melhor Roteiro por A Lista de Schindler) e o elenco é uma verdadeira constelação de estrelas: Sean Penn, Jude Law, Kate Winslet, sir Anthony Hopkins, Mark Ruffalo, Patricia Clarkson, e por aí vai…

A história gira em torno de um pacato e correto funcionário público, Willie Stark (vivido por Penn), que se deixa seduzir pelo mundo da política quando o convencem que, através da esfera Executiva, ele pode construir uma América melhor. Consagrado nas urnas com apoio do eleitor baixa renda, ele muda completamente quando chega ao poder.

A partir desse ponto, a história é só ladeira abaixo, em termos de poder, corrupção e ganância, envolvendo desde um influente juiz (papel de Hopkins) disposto a derrubar o eleito, até um jornalista (Law) com a missão de vasculhar os podres do magistrado, a fim de transformar o enredo em um embate de proporções trágicas.

Como eu já mencionei, há muitos títulos que merecem sua atenção. Vou citar apenas alguns: o também clássico Nashville (1975), de Robert Altman, narra a vida de 24 personagens à espera da passagem de um fictício candidato à presidência, desculpa para mostrar o comportamento da América dos anos 1970 em relação à música, política e armas; tem Mera Coincidência (1997), favorito de jornalistas e publicitários, pois é uma comédia sobre como criar uma narrativa dentro de de uma campanha.

Tem também Vice (2018), indicado a oito prêmios Oscar em 2019 (levou Maquiagem) e é inspirado no vice-presidente Dick Cheney, que esteve no cargo durante o governo do republicano George W. Bush (2001-2009), e ainda um filme pouco visto, mas interessante, que é Virada no Jogo (2012), ambientado na eleição americana de 2008, a que elegeu o democrata Obama em oposição ao republicano John McCain – e o enredo é basicamente sobre a escolha de Sarah Palin (Julianne Moore) para vice de McCain (Ed Harris).

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